quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Daspre

Outro dia ouvi na CBN (tá bom - o que eu estava fazendo ouvindo a CBN?!?) Gilberto Dimenstein fazer um comentário extremamente infeliz sobre a nova griffe da moda: a Daspre.

Projeto da Daslu e da Funap (Fundação de Amparo ao Preso), a marca, abreviatura de "das presas", consisite em utilizar o trabalho de detentas na realização e design de roupas e acessórios, especialmente bolsas. O comentarista teceu inúmeras loas à iniciativa, referindo-se à idéia como vanguardista e de profundo cunho social.

O que Gilberto Dimenstein não menciona é que, segundo a Lei n.º 7.210/84 (uma excrescência dos tempos ditatoriais), a remuneração do preso pode ser inferior ao salário-mínimo e sua contratação não gera qualquer direito trabalhista (arts. 28, § 2º e 29). Os encarcerados e encarceradas são, assim, uma massa de trabalhadores baratos, não incidindo nas suas contratações quaisquer encargos trabalhistas ou previdenciários. O desvirtuamento do trabalho do preso, que devia ter cunho social e educativo, é tamanho que o Ministério Público do Trabalho tem ingressado com diversas ações civis públicas destinadas a combater estas práticas ilegais e fraudulentas.

O "belo projeto social" conta, ainda, com isenção do ICMS, o que, somado ao trabalho semi-escravo, faz os preços de seus produtos serem ainda mais "competitivos".

As questões que não só ficam sem resposta, mas não são sequer perguntadas, são as seguintes: 1) as presas terão assegurados os direitos intelectuais de suas criações? 2) receberão participação nos lucros? 3) quem se apropriará dos lucros - a Daslu? 4) após cumprirem a sentença que lhes foi imposta, o que acontecerá com estas detentas?

Bonito seria se, ao final da pena, a Daslu contratasse as presidiárias, com todos os seus direitos trabalhistas e de previdência assegurados, para atuarem em seus "chiquetérrimos" estabelecimentos. Mas uma vaga na Daslu, todos sabem, é coisa de nível de filha de governador tucano. Não é pro populacho.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Mendes toma sermão do Alborguetti

Vejam bem: não concordo com o modus operandi desse tal de Alborguetti, que iniciou esse estilo de "jornalismo" que criou pérolas como Aqui Agora e Brasil Urgente. Mas que a montagem ficou divertida, ficou.

CQC atrás de Dantas

Assista que vale a pena...

Dantas condenado

Pois é... O banqueiro baiano foi condenado a 10 anos pelo juiz Fausto De Sanctis. Basta um golzinho de vez em quando pra gente acreditar em final feliz.

Tomara que o dono da bola - e que agora quer botar freios no Ministério Público, uma das poucas instituições genuinamente respeitadas do Brasil - não tente melar o jogo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

FHC e Lula na mídia: dois pesos, duas medidas

Reproduzimos, a seguir, excelente entrevista de Renata Camargo com o pesquisador David Renault da Silva, publicada originalmente no site Congresso em Foco que, junto à UnB, concluiu sua tese de doutoramento sobre o tão falado mito da imparcialidade da imprensa.

Uma análise sobre a cobertura da imprensa revela que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi tratado com condescendência pela mídia brasileira, ao longo de seus oito anos de mandato, e passou incólume mesmo quando os escândalos batiam à sua porta. A mesma sorte não tem o presidente Lula, sempre retratado com desconfiança pelos principais jornais do país e associado diretamente às denúncias de irregularidade de seu governo.

Essa avaliação é feita pelo professor da Universidade de Brasília (UnB), David Renault da Silva, autor da tese de doutorado Nunca foi tão fácil fazer uma cruz numa cédula? A Era FHC nas representações da mídia impressa.

“Mesmo quando se fala mal do governo do Fernando Henrique, tenta-se preservar sua figura do presidente”, diz o diretor da Faculdade de Comunicação (FAC) da UnB. “O presidente Lula não adianta dizer que ‘não sabe’. Mas o FHC podia dizer, porque ele era um intelectual. O raciocínio é que ele não se metia nessas coisas menores. O Lula, o PT, não é um candidato da imprensa nacional. A grande imprensa nacional não é petista, não tem interesse que o PT se mantenha no poder”, acrescenta.

Jornalista com passagem por cargos de chefia nas principais redações da capital federal e professor universitário há 15 anos, David atribui a “boa vontade” da imprensa brasileira com o tucano a uma espécie de “pacto de elites”. Esse acordo, segundo ele, foi tacitamente construído em 1994 para tentar barrar o favoritismo eleitoral de Lula naquele ano e frear o eventual retrocesso do então recém-lançado Plano Real.

Pai do Real

“Do ponto de vista nacional, as chamadas elites nacionais, as classes econômicas sociais dominantes, não tinham candidato que pudesse fazer frente ao Lula. O Fernando Henrique surgiu um pouco como esse candidato”, analisa David. “E houve um claro apoio da mídia a FHC. Ele foi apontado como o ‘pai do Real’ e sempre ocupou mais espaço no noticiário do que Lula”, observa.

Para concluir seu doutorado, David se debruçou sobre três mil notícias de jornais e revistas publicadas entre 1995 e 2002. Ao observar o noticiário político do período, constatou que o presidente não teve sua imagem diretamente associada a escândalos mesmo quando as denúncias resvalavam em seu gabinete.

Como exemplo, ele cita o caso da denúncia de compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição e o do envolvimento de autoridades do governo com lobistas para favorecer determinados grupos no leilão das teles. Um grampo telefônico mostrava, inclusive, que o presidente foi consultado sobre o assunto.

Restrições

“Se você pega o balanço final dos dois governos de Fernando Henrique, você percebe que na Era FHC tenta-se preservar a figura do presidente, no sentido de ‘o presidente está fora de escândalos, ele é um homem íntegro’. A Folha de S. Paulo, por exemplo, teve um editorial de primeira página muito significativo que dizia: ‘presidente bom, governo nem tanto’”, lembra David.

Para o pesquisador, FHC só teve sua imagem abalada quando, em 1999, em meio a uma crise internacional, alterou a política cambial e afetou os negócios dos grandes veículos de comunicação. “Nessa época, as empresas, inclusive de comunicação, perderam muito dinheiro, pois tinham dívidas e projetos de investimentos em dólar. Todos os jornais que tinham apoio bastante significativo ao presidente parecem romper.”

Mas esse rompimento, segundo ele, não chegou a se concretizar. Em parte, avalia, por causa da resistência da mídia ao PT. “Eu não vejo, digamos assim, essa condescendência da mídia com Lula que você via com o governo passado. Há sempre uma desconfiança de que pode mudar a qualquer momento. Sempre alerta”, afirma.

Embora critique o tratamento dispensado pela mídia ao governo petista, David Renault também não poupa o Partido dos Trabalhadores. “Ele está pagando e tem que pagar mesmo. O PT tinha todo aquele discurso de ‘éticos somos nós’. Aquele discurso ético existiu na retórica, mas na prática não foi isso que se viu”, critica.



Confira a entrevista:

Congresso em Foco – A que conclusão o senhor chegou após estudar a relação da mídia com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao longo de seus oito anos de mandato?

David Renault – Eu diria que a mídia apoiou claramente o Fernando Henrique e sua política em vários momentos. Isso se nota claro, por exemplo, no momento que antecede e quando foi lançado o Plano Real. Críticas há também. Inclusive, ele reclama muito da mídia em entrevistas que deu posteriormente.

Que tipo de críticas?

Tem coisas até que a mídia extrapola como o Dossiê Cayman. Nunca houve uma prova que aquilo foi verdadeiro, mas a mídia tratou como se fosse. Agora o grampo do BNDES, por exemplo, não tem como dizer que a mídia estava perseguindo, pois ele mesmo foi gravado, em conversa com o Luiz Carlos Mendonça de Barros, que era o ministro das Comunicações. Mas há um discurso que tenta dizer o seguinte: “O presidente é uma pessoa digna e não se meteu nessas coisas”.

A imagem dele, apesar das denúncias, não chegou a ser arranhada?

Na crise cambial, falava-se que ele era um presidente que não manteve a palavra no compromisso que assumiu. Fernando Henrique também foi acusado de ter sido negligente na questão da energia elétrica, que resultou na crise do apagão. Mas, quando você pega no final do governo, os jornais mostram o comando de uma grande figura. Mesmo quando se fala mal do governo do Fernando Henrique, tenta-se preservar sua figura do presidente. Quando surgiram os primeiros noticiários, fazendo comparação dos escândalos do Lula e do FHC, raramente se citava o nome dele. No sentido, de “o presidente está fora, ele é um homem íntegro”. E talvez seja. Não é simplesmente a mídia que quis trazer esse retrato. Se houvesse alguma coisa comprovada de atos ilegais dele, a mídia não deixaria de publicar. É o papel dela.

No caso do presidente Lula o tratamento é outro?

Hoje a associação de escândalos de governo é feita diretamente a Lula. O caso Waldomiro Diniz envolveu o José Dirceu e recaiu diretamente sobre Lula, porque estava no gabinete dele e “era impossível o presidente Lula não saber”. Essa postura dá para ver hoje na mídia. O presidente Lula não adianta dizer que “não sabe”. Mas o FHC podia dizer, porque ele era um intelectual. O raciocínio é que ele não se metia nessas coisas menores. O Lula, o PT, não é um candidato da imprensa nacional. A grande imprensa nacional não é petista, não tem interesse que o PT se mantenha no poder. Veja, por exemplo, essa recente crise financeira, em que o governo está autorizando o Banco do Brasil e a Caixa a comprarem eventuais bancos quebrados. Aí a mídia já começa a colocar as oposições falando que “no fundo, o que há é uma intenção do PT de reestatizar o sistema financeiro”. A mídia, de um modo geral, em relação ao PT, está sempre receosa no sentido de “será que esses caras não vão cair na besteira de voltar aos velhos tempos e achar que o Estado tem controlar tais setores?”. Eu não vejo, digamos assim, essa condescendência da mídia com Lula que você via com o governo passado. Há sempre uma desconfiança de que pode mudar a qualquer momento. Sempre alerta.

Em sua tese, o senhor defende que o bombardeio da mídia com publicações de denúncias sobre o governo FHC parecia indicar que o “pacto de elites” se romperia, mas esse rompimento teria ficado apenas no ensaio. Que pacto é esse?

Primeiro, vamos entender elite no conceito clássico, como uma determinada parcela da sociedade que tem um domínio social e econômico sobre o outro. Lula, na época, não era o candidato das elites nacionais. Então quando surgiu o Fernando Henrique, ele claramente foi esse candidato. E quando foi eleito, a grande imprensa – que evidentemente é aliada às elites nacionais – fez esse “pacto” em torno de questões que interessavam ao capital brasileiro, como as privatizações e a redução do tamanho do Estado. Quando falo que “parece que vai haver um rompimento” é o seguinte: quando Fernando Henrique foi eleito no segundo mandato, o mundo já vinha na crise financeira que começou em 1997, com a quebra dos Tigres Asiáticos; depois em 1998 veio a crise na Rússia e o Brasil estava meio incólume. Mas quando assumiu o segundo mandato, aquelas coisas que estavam represadas – a questão cambial, por exemplo, com o dólar sobrevalorizado em relação ao real – aquilo estourou. Então, no início de 1999, ele teve que fazer a desvalorização do real. E naquela época no noticiário você nota claramente que parece haver um rompimento. As empresas levantavam a seguinte questão: “E quem investiu? E quem acreditou na palavra do presidente?”. Então os editoriais e noticiários retomam que o problema é que os brasileiros e as empresas acreditaram no presidente, que não haveria maxidesvalorização cambial, que a política cambial seguiria segura. Nessa época, as empresas, inclusive de comunicação, perderam muito dinheiro, pois tinham dívidas e projetos de investimentos em dólar. Todos os jornais que tinham apoio bastante significativo ao presidente parecem romper. Mas depois você vê que, embora tenha diminuído um pouco a boa-vontade da mídia em relação ao FHC – tanto que a comemoração dos 500 anos foi um fiasco na retratação da mídia –, não houve esse rompimento.

O interesse da mídia em apoiar FHC foi basicamente econômico, então?

Se, por um lado, o empresário tinha interesse que a economia prosperasse, por outro, em um determinado momento, as pessoas de modo geral sentiram que o real podia sim resolver o problema econômico do Brasil e tirar o país daquela crise de hiperinflação. Nesse aspecto, houve sim um sentimento de interesse econômico. E isso o PSDB usou para levantar a candidatura do Fernando Henrique e a mídia apoiou para que o Plano Real ficasse atrelado a Fernando Henrique.

O “pacto das elites” deixou de existir com Lula?

Não tenho muitas condições de entrar nessa análise, pois isso não foi objeto do meu trabalho. Mas posso dizer que quando Lula assumiu, ele não teve o mesmo apoio que o FHC teve. A mídia sempre olhou o Lula meio como “o que vai acontecer”, “que presidente é esse?”. No momento que o Lula manteve praticamente inalterada a política econômica do governo anterior, a mídia foi reduzindo o seu grau de desconfiança. Não acho que tenha existido em algum momento o pacto da mídia com o governo Lula. Como no caso do Fernando Henrique, em que claramente houve um apoio da mídia ao Plano Real, que significaria um apoio ao candidato. Isso não houve no caso do Lula nem no começo do governo. Ele sempre foi muito cercado de dúvidas.

Em relação aos “escândalos” de cada governo, na Era FHC, por exemplo, houve o episódio de pagamento de propina a deputados para votarem a favor da emenda da reeleição. Já no governo Lula, houve o escândalo do mensalão. Esses dois episódios foram tratados de maneira diferente pela mídia?

Foram. Isso você nota claramente. Na época de FHC, o episódio da emenda da reeleição começou com a Folha de S. Paulo divulgando a questão da compra de deputados para votar a favor, mas você nota que há uma responsabilização do governo, mas ninguém chega a dizer que o presidente Fernando Henrique estava envolvido nisso. No máximo, os editoriais sustentam que o escândalo “de repente” pode bater na porta do presidente. No caso do mensalão, no governo Lula, se você lembrar bem, desde o primeiro momento a mídia apontou que o problema estava dentro do gabinete do Palácio do Planalto. Sobre impeachment, por exemplo, o Fernando Henrique teve muitos pedidos por parte das oposições, especialmente do PT. Mas nunca teve apoio por parte da mídia. No máximo, “vamos abrir uma CPI para discutir isso”. Com Lula houve um tratamento diferenciado. A mídia não deixou de divulgar os escândalos do governo do Fernando Henrique, mas seguramente expôs muito mais o atual governo e seus escândalos. Isso dá para dizer seguramente.

Nos dois governos FHC o número de CPIs abertas contra o governo foi muito menor do que o registrado no governo Lula. Por quê?

Porque o governo Fernando Henrique tinha uma maioria muito confortável no Congresso. Ele tinha uma maioria folgada na Câmara e no Senado. A aliança do Fernando Henrique era o PFL [atual DEM], PSDB e PTB, mas, logo quando assumiu, ele fez um acordo com o PMDB e com partidos menores. Então tinha uma maioria muito tranqüila no Senado, especialmente. Todas as tentativas de CPI, e eram várias, foram derrubadas. Ele tinha uma maioria que o Lula não tem. O Lula conseguiu formar uma maioria na Câmara, mas ele nunca conseguiu no Senado. E na Câmara, como são muitos deputados, é mais fácil barganhar – troca de cargos, liberação de verbas e etc. Isso aconteceu direto no governo Fernando Henrique. E os jornais, na época do FHC, raramente pediam CPI. A não ser depois, quando veio a CPI do Apagão e a CPI da Sudene. Mas, por exemplo, coisas como o grampo do BNDES e o Caso Sivam, nada disso se conseguiu montar CPI.

Como o senhor avalia a oposição feita pelo PT na Era FHC?

O PT era uma oposição implacável, a tudo e a todos. E deu muito trabalho. Tudo era motivo para criar uma CPI, ir à Justiça. Eles municiavam muito a imprensa com informações contra o governo. Daí eu pergunto: o PSDB e o PFL [DEM] fazem oposição ao governo hoje? Fazem, desde o começo. Mas é café pequeno diante do que o PT sempre fez desde o começo. Aquela foi uma oposição brutal que só mudou no final do governo, nos dois últimos anos talvez e, principalmente, no ano derradeiro. A partir de um determinado momento, o PT sentiu que tinha de fato chance de chegar ao poder. Aí ele foi maneirando seu discurso oposicionista. Inclusive se olhar o ano de 2002, foi complicado, porque a perspectiva do PT chegar ao governo fez com que a inflação começasse a subir, o dólar chegar a quase R$ 4. Não interessava ao PT assumir um poder com um país despedaçado. A postura dele foi mudando.

Mas qual o diferencial da oposição de hoje em relação à oposição petista?

O PT era a oposição de partido político dentro do Congresso. Mas a oposição, na época, não era só o PT. Vinha também de seus braços sindicais como a CUT [Central Única dos Trabalhadores] e movimentos como o MST [Movimento dos Sem-Terra] – que, na época, tinha ligação mais estreita com o PT. Foi uma oposição muito serrada. A greve, por exemplo, dos petroleiros, o primeiro grande embate do FHC com a oposição, era uma greve muito genérica. A greve era contra as reformas constitucionais propostas pelo governo, que eram reformas “neoliberais”, contra a privatização, em defesa do monopólio da Petrobras... Foi um embate duro. O papel dos movimentos sindicais nessas brigas era muito profundo, coisa que o Lula não enfrentou. Lula tem a oposição no Congresso, mas qual o movimento sindical nas ruas, dando apoio a essas oposições? Não sei se outro governo teve uma oposição tão aguerrida quanto no governo FHC, feita pelo PT.

Falta apoio popular hoje à oposição?

A oposição hoje, dentro do Congresso, ela criou e cria muitos problemas para o governo, especialmente no Senado, onde ele não tem maioria. Mas esse movimento de oposição não tem o respaldo das ruas.

Até que ponto o PT não está pagando, com as críticas que recebe na imprensa, por ter deixado o seu discurso ético e revolucionário?

Ele está pagando e tem que pagar mesmo. O PT tinha todo aquele discurso de “éticos somos nós”. Aquele discurso ético existiu na retórica, mas na prática não foi isso que se viu. Vemos hoje os mesmos problemas que se viu no Brasil em tempos anteriores. Aquilo que Sérgio Buarque de Holanda falava, da mistura do público com o privado... A prática do PT se mostrou igualzinha a dos outros e em alguns aspectos ainda mais corporativista. O PT teve o bom-senso de manter, quando Palocci assumiu o Ministério da Fazenda, a equipe econômica. Mas em outros ministérios, o PT fez uma limpeza geral: quem não era do partido estava fora.

O senhor identifica hoje, na imprensa brasileira, alguma figura política que receba o mesmo tratamento que a mídia dispensou a FHC? Alguém com esse mesmo “carisma”?

Carisma à altura do FHC?... Não, acho que não. O [José] Serra seria, eu diria, o herdeiro natural do Fernando Henrique. Mas, veja bem, quem era o Fernando Henrique: era um professor, sociólogo, aposentado pelo regime militar, ex-exilado, que se envolveu em movimentos políticos... No começo de sua trajetória, Fernando Henrique foi um dos que apoiaram o movimento dos metalúrgicos do ABC Paulista. Depois, assumiu como suplente no Senado e, em seguida, se elegeu senador. Era uma figura respeitada. Um cara tido como sério, honesto, intelectual. Tanto que essa figura do intelectual a mídia sempre perpassou. Logo quando ele despontou como candidato principal nas eleições de 1994, a mídia falou: “finalmente esye país terá um presidente à altura do futuro que merece”. A contrapartida era o Lula, metalúrgico, um pouco mais do que analfabeto, radical, despreparado. Ainda assim, no início, Fernando Henrique não tinha o carisma de um Mário Covas, por exemplo. Mas, quando foi para a Fazenda, ele ganhou o status de nome nacional. E o Plano Real foi atribuído a ele. A primeira nota de Real foi assinada por ele. Hoje no Brasil eu não vejo uma pessoa com esse carisma. O Serra talvez se aproxime por ter fama de administrador competente. Ele fez uma boa gestão no Ministério da Saúde, uma pequena, mas boa gestão na prefeitura de São Paulo e está fazendo um bom trabalho no governo de São Paulo. Mas essa figura que reúne o intelectual, o homem público, o cordial, sereno e inteligente, que é essa a imagem de Fernando Henrique, eu não vejo ninguém hoje no Brasil.

A sua análise recaiu apenas sobre a mídia imprensa, com pesquisas no noticiário dos jornais e revistas. Se fosse hoje talvez poderia ser diferente... O senhor avalia que a mídia impressa tem perdido espaço em relação a outras mídias?

Antigamente, os jornais repercutiam muito mais o que acontecia. Hoje, dificilmente, você segura uma notícia de um dia para o outro. Ela está instantaneamente divulgada. Há uma velocidade muito maior na geração, na produção e na transmissão da informação. Mas os jornais impressos ainda estão procurando ‘como vai ser’. Ninguém sabe bem como vai lidar com esse negócio da internet. Essa relação dos jornais, da revista e da internet ainda não está clara. Tem muita gente deixando o papel, porque se lê hoje na internet o que será lido amanhã nos jornais.

A maneira de divulgar e fazer política mudou com a internet?

Hoje se pode dizer que, se você quiser, você faz o seu jornal. O blog, por exemplo, é um novo caminho que também significa uma forma de concorrência com a mídia tradicional, especialmente quando se fala de noticiário mais especializado. Tem determinados blogs que trazem muito mais informações, mais detalhes, do que os jornais e revistas. A internet é um outro ponto de concorrência da mídia tradicional.

E até que ponto a concentração de concessões de rádio e TV nas mãos de políticos interfere no processo de construção de imagem de um político?

Só interfere! Você tem no Brasil uma infinidade de pequenos jornais, que são veículos vinculados a políticos ou partidos. Todos têm um interesse e defendem esse interesse. E eles têm uma interferência muito grande sobre o que vai ser veiculado ou não. E isso contribui para formar ou não a imagem de um candidato e de um governo. São veículos de difusão de interesses políticos de A, B ou C. A mídia não tem nada de democrática quando se fala, especialmente, em rádio e televisão. É só você vê quem são os detentores das concessões.

Fonte: site Congresso em Foco

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Mino em vídeo

Mino Carta fala um pouquinho do presente do Brasil e do que esperar para seu futuro.



"Emprestado" do Blog do Mino

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Vá ao Balaio do Kotscho...

...e confira esse post sobre a isenção política da imprensa.

O exemplo das páginas amarelas da revista Veja dessa semana, que têm por entrevistado Demétrio Magnoli (aqui uma pílula de sua sabedoria), parece brincadeira de tão escrachado.

Memória política - 1

Vamos relembrar alguns momentos infelizes da política brasileira recente?

1) Regina Duarte com medo (Campanha Presidencial de 2002):



2) Ricúpero na parabólica (Governo Itamar Franco) - "Eu não tenho escrúpulos: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde":



3) Confisco do Governo Collor:

Julgamento do HC de Dantas

Na próxima quinta-feira, deve ser julgado o mérito de um dos habeas corpus impetrados por Daniel Dantas no Supremo Tribunal Federal, e que tiveram liminares concedidas pelo Ministro Gilmar Mendes em tempo recorde. As decisões do Presidente do Supremo, seguidas de repreensões disciplinares ao Juiz Fausto De Sanctis, que ordenou a prisão de Dantas, não só repercutiram negativamente perante a opinião pública, como também foram duramente criticadas por diversos setores da comunidade jurídica.

Dentre os integrantes do STF, incluídos aí os sete indicados pelo Presidente Lula que, se esperava, daríam um ar mais progressista à Corte, o único que parecia representar algum perigo ao banqueiro baiano era o Ministro Joaquim Barbosa. Tanto é assim que a defesa de Dantas argüiu a suspeição do magistrado perante a Suprema Corte, buscando evitar sua participação na decisão final acerca dos HCs.

Curiosamente, Joaquim Barbosa foi despachado pelo Tribunal Superior Eleitoral, do qual é Vice-Presidente, para um evento em Washington sobre eleições, do qual retorna no próximo dia 8.

Mais uma vez parece que está tudo armado para o $TF não cumprir a missão que dele se espera na efetiva construção de uma verdadeira democracia no Brasil, desconhecedora de privilégios e orientada pelos valores republicanos.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PSDB nas eleições municipais


A discussão sobre quem foi o grande vencedor das eleições finalizadas no domingo passado tem ocupado uma boa parte do noticiário, dividindo opiniões.

Muitos afirmam que o paulista José Serra foi o ganhador inconteste com a reeleição do prefeito Gilberto Kassab em São Paulo. Outros apontam Aécio Neves, de Minas Gerias, como quem realizou a maior façanha neste pleito, ao eleger (e não reeleger), Márcio Lacerda, do PSB, em BH. Os dois tucanos obtiveram, com seus candidatos, desempenho insofismável no segundo turno, fechando a apuração com 10 pontos de vantagem em relação ao adversário.

Quanto a Lula, esse é um perdedor quase que consensual, não obstante o resultado da capital mineira, também cacifado por Aécio, e a eleição do mau-caráter Eduardo Paes no Rio, faturada mais pelo PMDB de Sérgio Cabral que pelo petismo.

Muito embora não concorde inteiramente com a avaliação do desempenho de Lula, me concentrarei, neste primeiro momento, no bipolarismo peessedebista que têm extasiado os integrantes do PiG.

Serra optou por construir uma aliança à direita da direita. Demonstrou cabalmente a força reacionária numa unidade da federação sabidamente conservadora, que elege a trupe tucana ao governo do Estado há muito tempo. Os apoios amealhados, que vâo de Quércia a Agripino Maia, dão um perfil claro do que se pode esperar da gestão Kassab, bem como dos arranjos para as próximas eleições, certamento já fechados pela trupe. Por exemplo: Orestes Quércia no Senado, daqui a dois anos, é uma possibilidade bem real.

Já Aécio Neves, pareando-se com o petista Fernando Pimentel, atual prefeito de Belzonte, bandeou-se para a esquerda, causando alvoroço no seio dos dois principais partidos brasileiros, especialmente no PT. A aliança deu força ao grupo que defende a aproximação das legendas como forma de estabelecer um golpe fatal às oligarquias tradicionais - embora, no meu ver, a diferença entre oligarquia tradicional ou não-tradicional seja a mesma que existe entre merda com ou sem cobertura de cereja. De toda forma, a vitória conquistada deu mais um empurrãozinho à idéia do namoro.

Difícil dizer qual dos dois sai mais fortalecido do processo eleitoral e, consequentemente, mais apto a pleitear uma vaga na disputa presidencial que se aproxima. Mas isso não importa tanto quanto os efeitos das distintas políticas de aliança dentro do próprio PSDB.

De fato, os movimentos em direções opostas verificados em São Paulo e Minas, respectivamente para a direita e para a esquerda, fazem entrever um tensionamento intenso dentro da legenda tucana que pode causar um sério despedaçamento do partido. Mesmo tendo em suas fileiras os dois campeões das eleições municipais - ao menos segundo a maior parte da imprensa, o PSDB corre o sério risco de se ver absolutamente desgastado até 2010.

Quem ganhou? Não sei. Quem perdeu? A tal da socialdemocracia brasileira (que, aliás, tem muito de brasileira e quase nada de socialdemocracia).

A composição da Câmara Municipal de São Paulo

Como se sabe, Netinho, do pagode, do "Dia de Princesa" e agora do PCdoB, foi o terceiro vereador mais votado da cidade de São Paulo, com espetaculares 84.406 votos.

A legenda comunista, que tem quadros excepcionais como o deputado federal Aldo Rebelo e Jamil Murad, também eleito vereador, parece não aprender. Pelamordedeus! Se esquecem o que aconteceu com o cacareco Ademir da Guia após as eleições de 2004?

E vão repetindo o mesmo erro: ganham-se votos mas se perde a consistência partidária que era um dos grandes diferenciais do PCdoB.

Enfim, vamos lembrar um pouco da trajetória desse novo edil que, pela votação acachapante, deve exercer um importante papel na legislatura que se inicia.

- Espancou a ex-mulher, negou no início e admitiu depois.

- Socou o repórter vesgo:



- E, para finalizar, uma exibição de cultura:

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

T-Shirt Hell

Para quem gosta de um humor ácido, forte, sem papas na língua, recomendo o site T-Shirt Hell, que vende camisetas com frases de uma incorreção política deliciosa. Há até uma seção de roupas infantis, para aqueles que não têm mesmo limites.

Aviso desde já: não é para os que se ofendem facilmente...

Para você ter uma idéia do que te espera e não reclamar depois, aí vão alguns exemplos do que o T-Shirt Hell oferece:

Um olhar sobre a tal da crise

De economia não entendo patavina. Do pouco que sei, nunca acreditei, como bom materialista (no sentido atribuído ao vocábulo por Marx, e não Madonna) na tal historieta da mão invisível. Pra mim todo esse papo sempre teve cheiro de fábula burguesa, mitologia liberal, conversa pra boi dormir.

Sendo assim, ninguém vai encontrar no meu rosto aquele olhar de “Papai Noel não existe” que hoje cobre a face dos apologistas da desregulamentação, seja nos círculos empresariais, econômicos, políticos ou da imprensa. Estou assustado, afinal sei lá o que vai acontecer com a mensalidade da escola do meu filho ou se meu emprego vai pro vinagre, mas não posso dizer que estou surpreso com o salto para trás do quasimodo capitalista.

De todo jeito, o que me parece essencial nesse bafafá todo não diz respeito a taxa de juros, swaps, hipotecas e derivativos, esses temas incompreensíveis que enchem as páginas dos jornais e empolgam debatedores nos programas de TV. A grande questão é, mais uma vez, quem vai pagar a conta.

Lembro aqui de uma velha amiga que me ensinou um brocardo de sabedoria ímpar, segundo o qual “passarinho que come pedra sabe o cu que tem”. No caso da economia, todavia, me parece que o cu proverbial foi terceirizado, outsourced na linguagem mais precisa do pensamento gerencial norte-americano. Dessa forma, os passarinhos (no caso as economias dos países centrais) podem comer à vontade tudo o que lhes dá na telha, com os temperos e especiarias que quiserem, porque o que não interessar, o que não for virar gordura, glicogênio, sairá rasgando as preguinhas do ânus alheio (as economias dos países periféricos).

Como sempre acontece, o desenrolar dessa crise vai apresentar duas formas de solução possíveis aos países menos desenvolvidos, dentre os quais o Brasil. Primeiro, a mais simples: tomar alguns medicamentos que ajudem na digestão da pedra e, depois que ela sair, sideusquiser menorzinha, passar uma pomadinha, evitar as assaduras e se preparar para a próxima. É o caminho da responsabilidade fiscal, da política monetária consequente, da cartilha da austeridade liberal.

Outra, mais ousada: falar pro passarinho – filhote, quem mandou comer essa porcaria? Agora güenta! Nesse bumbunzinho aqui não vai passar nada não! Quem manda ter o olho maior que a boca? Banana procê. Em outras palavras: vamos construir uma saída comum, negociada, mas com os ônus do ajuste recaindo prioritariamente nos países ricos e, dentro de cada nação, nas classes mais abastadas. Não vamos aceitar a socialização apenas das perdas, quando nunca se falou na coletivização do filé.

Claro que nada é simples assim. Mas não dá para acreditar numa via única, num caminho inexorável, na ausência de escolhas. Senão é defender o fim da história. E, caramba, isso eu não faço. Afinal de contas, tenho um filho de 3 anos.

Marqueteiros da Marta

Muito já foi dito sobre a triste jogada da campanha de Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo nestas eleições, quando perguntou num anúncio se o eleitor sabia se Kassab era casado ou tinha filhos.

Num exercício de imaginação, tentei visualizar como se daria uma eventual participação de Frank Zappa na campanha da petista. Caso fosse ainda vivo e tivesse sido convidado para fazer um "showmício" em São Matheus, zona leste de São Paulo, creio que optaria por uma abordagem mais direta, que seria mais ou menos assim: